QUANTO VALE UMA VIDA HUMANA NO BRASIL?
Autor:
Francisco Sérgio da Silva Evangelista – Graduado em Matemática, Pós Graduado em
Políticas e Gestão em Segurança Pública e Subinspetor da Guarda Municipal de
Fortaleza.
A
julgar pelos os índices de violência e de criminalidade apresentados nas
últimas décadas pelas pesquisas e a mídia brasileira, a vida humana não vale
nada. Nas mortes violentas, como os homicídios, em que a arma usada vale mais
do que valor pago pelo crime, muito comum no tráfico de drogas, nos
feminicídios, em que o machismo vale mais que o choro dos filhos órfãos, nos
latrocínios, em que um smartphone, um carro, ou uma bicicleta vale mais do que
a vida dos proprietários, recentemente dois Cardiologistas foram vítimas de
latrocínios, roubo seguindo de morte, um por causa da bicicleta e o outro teve
seu carro roubado e quantos outros não perdem suas vidas por causa bens
superfete. E no trânsito, quanto vale
uma vida? E duas quanto vale? Segundo reportagem do Fantástico do dia 25/
10/2015. 'Ela dava risada’, diz
testemunha de atropelamento que matou dois em SP. José Hairton e Raimundo
Barbosa trabalhavam numa ciclofaixa quando foram atropelados. Motorista fugiu
sem prestar socorro às vítimas. Testemunhas seguiram a motorista e tiraram a
chave para ela não fugir. Juliana Silva pagou fiança de R$ 15 mil e vai
responder em liberdade. Concluiu a reportagem.
Para a
nossa justiça, no entanto, a vida humana tem valor monetário, no trânsito, por
exemplo, o motorista causador da morte, paga uma fiança e é colocado em
liberdade. Na reportagem citada, duas vidas valeram R$ 15 mil. Quais os
critérios para este cálculo? E os valores não computáveis, como os de natureza
sentimental, emocional e afetivo? Para as seguradoras, os critérios são
unicamente econômicos, a vida de uma pessoa vale em dinheiro, o quanto ela
produz em vida ou o quanto ela seria capaz de produzir a partir da idade que
faleceu. E a vida de um idoso, quanto vale? Não vale um tostão, principalmente,
para o poder público, não tem retorno financeiro, só prejuízo para os cofres
públicos, logo, o esquecimento e o abandono são observados nas filas dos postos
de saúde e nos hospitais e aposentadoria representa o valor monetário de quanto
custa à vida de cada idoso. E a vida de
um jovem, quanto vale? Se a vida de um idoso, que trabalhou a vida toda, não
vale um tostão, logo, a vida de um jovem não vale um vintém, corre um sério
risco de diminuir drasticamente sua existência na terra, se os índices de
mortalidade juvenil, principalmente, os homicídios e os acidentes de trânsito
não diminuírem nos próximos anos. Veja o que diz o Mapa da Violência 2014 “Jovens
do Brasil”; Estudos históricos
realizados em São
Paulo e Rio
de Janeiro (VERMELHO;
MELLO JORGE, 199613) mostram
que as epidemias
e doenças infecciosas,
que eram as principais
causas de morte
entre os jovens
cinco ou seis
décadas atrás, foram sendo
progressivamente substituídas pelas
denominadas causas externas, principalmente acidentes
de trânsito e
homicídios. Os dados do SIM permitem
verificar essa significativa mudança. Em
1980, as causas externas já
eram responsáveis pela
metade exata –
50,0% – do total
de mortes dos
jovens no país.
Já em 2012,
dos 77.805 óbitos
juvenis registrados pelo SIM,
55.291 tiveram sua
origem nas causas
externas, fazendo esse percentual
se elevar de
forma drástica: em
2012 acima de
2/3 de nossos jovens – 71,1% – morreram por causas externas.
São
vidas produtivas perdidas, logo, se aplicarmos o mesmo critério econômico
citado, o Estado brasileiro deve muito a sociedade e é culpado pelas vidas
perdidas precocemente pela sua total omissão, se a população cobrasse, os
nossos políticos teriam que aprovar todos os dias empréstimos para pagar tal
dívida, empréstimo igual àquele que os deputados Cearenses aprovaram para a
construção de novos hospitais, segundo eles. E a vida dos Encarregados de
Aplicar a Lei, os policiais militares, civis, bombeiros, guardas municipais, em
fim, todos que estão enquadrados no artigo 144 da Constituição Federal, quanto
vale? Principalmente, os policiais da linha de frente, devem custar o preço de
um colete fora da validade, e a vida de um guarda municipal, que trabalha
desarmado, deve custar o valor de um cassetete. O morticínio de policiais em
todo país é crescente e assustador. Segundo os dados da 9ª edição do Anuário
Brasileiro de Segurança Pública; “A morte ronda a vida cotidiana dos policiais
no Brasil. Em 2014, 398 policiais foram
assassinados. Diante da situação
de tantas perdas
de vidas, notamos que muitos
governos e governantes não mostram a menor atenção para a morte de policiais. Raríssimos
são os Governadores e até mesmo Secretários de
Segurança Pública que
vão até o enterro de seus policiais. A presença de altas autoridades
neste tipo de cerimônia indicaria um respeito para os policiais. Muitas
famílias de policiais mortos passam por problemas inaceitáveis para que a
pensão e/ou o seguro seja pago, ficando em situação de extrema vulnerabilidade
" ( Rafael Alcadipani da Silveira - A Morte do Policial ). Vou concluir
com uma frase; As mortes dos nossos jovens e dos policiais mostra a falência
moral dos governos.
REFERÊNCIAS:
BRASIL.
Fórum Brasileiro de Segurança Pública. ANUÁRIO BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA
2015. 9ª edição. Disponível em; http://www.forumseguranca.org.br/storage/download//anuario_2015.pdf
WAISELFISZ. Júlio Jacobe. MAPA DA
VIOLÊNCIA/2014 “Os Jovens do Brasil “. Brasília-2014. Disponível em: http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2014/Mapa2014_JovensBrasil.pdf
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